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segunda-feira, 20 de abril de 2009

caras e bocas uma historia sem rumo

Enquanto não se encontrarem novos caminhos narrativos para a telenovela, ela vai continuar definhando

TÁ BOM: existem a concorrência do outro canal, a disputa com internet, DVD e TV a cabo, a falta de tempo, o esgotamento da fórmula, mas há, também, uma falta de imaginação gigantesca nas telenovelas. Começa do nome: "Caras & Bocas" lembra "Plumas & Paetês" que lembra "Transas & Caretas"... Daí temos: moça rica tem um grande amor de juventude por moço pobre e talentoso, de quem fica grávida. Separados por intriga armada pelo avô milionário, ela, rica, torna-se uma profissional bem-sucedida e solteira convicta. Ele, pobre, não sabe da existência da filha.
Depois, temos São Paulo, dividida entre os Jardins chiquérrimos da moça rica e a Lapa simplória do moço pobre. As imagens clichês -engarrafamentos, avenida Paulista, prédios, o Masp- da cidade se sucedem, à guisa de confirmação.
Em seguida, os "temas" sócio-antropológicos. Na categoria apresentação de grupos humanos não-convencionais, lá vem os judeus ortodoxos. Na categoria merchandising social, uma moça cega, em busca de inclusão no trabalho. Na infanto-juvenil, a proteção aos animais.
Ah, sim, e desta vez os nichos profissionais circulam em torno da "sofisticação" paulistana: as artes plásticas e a gastronomia. A moça, rica, adora "arte" e é dona de galeria; o moço, pobre, encerrou sua carreira de pintor para sustentar a família (mas quando a gente vê o último quadro que pintou, fica desconfiada de outros motivos...).
No núcleo cômico-sexy, um outro moço, pintor duro da praça da República, vai ascender no mundo da "arte pura", no dizer de uma galerista "sofisticada", vendendo quadros pintados por um chimpanzé.

Por nenhuma ponta dá para segurar o interesse. A história de amor, atravessada por equívocos, segredos e intrigas, parece estranhamente anacrônica diante dos relacionamentos reais contemporâneos: casais se fazem e se desfazem pelas neuroses, pelos desencontros de personalidade, não pela ação de vilões maquiavélicos. Se o esquema do folhetim já funcionou nas telenovelas nos idos da década de 70 e 80, foi porque os autores de então souberam tratá-lo de forma atualizada. Partia-se do folhetim para frente e não para trás, como parece ser a regra de uns tempos para cá.
Quanto aos "temas", ora... Com tanta informação circulando pelo mundo, também parece deslocada essa missão didático-moral da qual se investem as novelas.

Ver novela é hábito, mas deixar de vê-la é sintoma: enquanto não se encontrarem novos caminhos narrativos para a telenovela, ela vai continuar definhando.